Resumo:
Esta pesquisa examina discursos sobre o turismo em Florianópolis, especialmente no que diz respeito à representação da cidade, na folheteria do turismo disponibilizada aos visitantes brasileiros e estrangeiros. Tem como objetivo geral investigar como a identidade de Florianópolis e o modelo turístico privilegiado pela indústria turística local aparecem representados em folhetos turísticos bilíngues ou trilíngues e a articulação dessas representações com os discursos do capitalismo. Visa também investigar como o discurso da ecologia e da sustentabilidade, fortemente presente em um dos folhetos do corpus, articula-se com os discursos sobre turismo e identidade local no contexto do capitalismo. Para atingir tais objetivos, utilizo como base teórico-metodológica a Análise Crítica do Discurso de Fairclough, fundamentos da Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday, a Gramática do Design Visual de Kress e van Leeuwen (2006) e teorizações de Dann (1996) sobre a linguagem do turismo. No que diz respeito às estratégias tradutórias utilizadas nos folhetos turísticos, emprego o
conceito de item cultural específico de Aixelá (1996) e a dicotomia estrangeirização x domesticação, proposta por Venuti (1995). O corpus analisado é constituído por 15 folhetos bilíngues ou trilíngues. As análises sociossemióticas partem do nível da estrutura da linguagem verbal e das imagens, as quais, associadas ao contexto discursivo do turismo em Florianópolis e a questões sociais que envolvem discurso e ideologia na sociedade capitalista, veiculam crenças, valores e visões de mundo. Resultados das análises sugerem que as escolhas léxico-gramaticais, visuais e tradutórias usadas nos folhetos contribuem para que o ambiente da cidade seja transformado em commodity, para que o turista seja reduzido à condição de consumidor de bens e serviços oferecidos pelo trade turístico e para que os trabalhadores do turismo e a população local sejam apagados. Sugerem também que o discurso da sustentabilidade ecológica não se mostra capaz de fundamentar a construção de um modelo turístico que se contraponha aos discursos e práticas do capitalismo.