Resumo:
Esta tese buscou compreender como as práticas de aprendizagem vivenciadas pelos gestores
atuantes no contexto estratégico da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica (EPCT) contribuem para o desenvolvimento de competências profissionais. Por
meio de estudo qualitativo e exploratório, tendo como estratégia metodológica a história de
vida, procedeu-se a entrevistas semiestruturadas em profundidade com 12 gestores que
atuaram no contexto estratégico da EPCT. Estes gestores desempenharam os cargos de Reitor,
Pró-Reitor ou Diretor Executivo no Instituto Federal de Santa Catarina, lócus de
desenvolvimento da pesquisa. As diferentes lentes analíticas disponibilizadas pelo Modelo
Zoom permitiram uma análise multidimensional e dinâmica das 12 histórias de vida, com
foco nos níveis micro, meso, macro e interacional. As análises identificaram a presença de 58
temas chaves nas narrativas, os quais foram vinculados a 13 agrupamentos de práticas
específicos. Os resultados mostraram a assertividade da opção pela história de vida, que
possibilitou o resgate de práticas de aprendizagem vivenciadas por estes gestores ao longo de
suas trajetórias, desde a infância. O desenvolvimento gradual e progressivo de competências
para atuação na gestão estratégica é decorrente da participação e envolvimento nestas práticas,
as quais são afetadas por questões relacionadas ao contexto social, econômico e cultural em
que são performadas. Este desenvolvimento de competências é potencializado quando se
interconectam processos formais, não formais e informais de aprendizagem. As
características pessoais e competências dos gestores se manifestam quando o knowing é
colocado em ação na atuação estratégica, seja como potencialidades ou fragilidades. A
pesquisa reiterou que inexiste na instituição e na Rede EPCT, estratégia de formação e
desenvolvimento continuada e antecipatória voltada para a atuação nos cargos estratégicos, o
que pode levar a um gap de competências em gestão a médio e longo prazo. Os resultados
apontam a preferência dos gestores a adotarem estratégias autodirigidas e informais de
aprendizagem, bem como desenhos mais situados de aprendizagem. Assim, a aprendizagem
no local de trabalho representa uma parte substantiva da aprendizagem dos gestores, e um
desafio a ser melhor compreendido pelas instituições. As práticas de aprendizagem
evidenciadas corroboram a perspectiva da aprendizagem enquanto fenômeno social, e da
aprendizagem baseada em práticas. Adicionalmente, validam as perspectivas da lifelong
learning, permitindo qualificar os gestores entrevistados como lifelong learners, ou seja,
aprendizes ao longo da vida. Adicionalmente, os gestores nas suas trajetórias participam de
comunidades de prática diversas, e estas constituem espaços privilegiados de aprendizagem.
Entretanto, a qualidade das práticas performadas e da aprendizagem é afetada diretamente
pelas relações de confiança e de poder estabelecidas entre os diferentes atores, evidenciando
a necessidade de um apoio qualificado para mediação destes. A pesquisa possibilitou desvelar
o potencial de formação para a atuação estratégica contido no que denominamos de itinerários
formativos em gestão, construídos a partir das práticas vivenciadas pelos gestores ao longo da
vida, e em especial, no contexto do trabalho na EPCT. Infere-se que os repertórios individuais
e coletivos de competências para a gestão são construídos a partir do desenvolvimento desses
itinerários, constituindo um currículo situado e oculto de aprendizagem. Os resultados
apontam para a necessidade de explicitação, potencialização e validação dos itinerários e
certificação das competências desenvolvidas, bem como de revisão, premente, dos atuais
critérios de ocupação dos cargos estratégicos. Em que pese as competências desenvolvidas
pelos gestores, a pesquisa identificou demandas de aprendizagem a serem atendidas,
decorerentes da ausência de formação dos gestores para exercerem os cargos, bem como do
aspecto provisório inerente das práticas. Dado o exposto, e considerando o conceito de
textura organizacional e de práticas, são propostas 30 diretrizes voltadas à qualificação do
desenvolvimento de gestores estratégicos, a partir de uma perspectiva previsional de
competências.