Resumo:
Esta pesquisa tem como objetivo examinar a representação da ciência que estaria sendo
disseminada pela pedagogia cultural posta em operação pela série norte-americana de comédia e ficção científica Rick e Morty. Série essa que apresenta a história de um “cientista”, Rick, e seu neto, Morty, personagens que se aventuram em viagens em outros mundos e dimensões alternativas. Para tanto, tomei os episódios da primeira temporada da série como material empírico e apreciei esse material a partir de contribuições teórico-metodológicas da produção foucaultiana sobre discurso. Ademais, a fim de problematizar a representação da ciência, utilizei como aporte proposições concernentes à moderna filosofia da ciência, mais especificamente as relacionadas à epistemologia de Paul Karl Feyerabend. O referencial teórico-metodológico incluiu, além de Michel Foucault e Paul Karl Feyerabend, Stuart Hall e autores que têm se dedicado ao estudo das pedagogias culturais, como Marisa Vorraber Costa, Viviane Castro Camozzato e Paula Deporte de Andrade. A partir da análise empreendida, identifiquei que o artefato cultural midiático examinado estaria ensinando especialmente sobre “o que é ciência”, “quem faz ciência” e “como se faz ciência”. Esses ensinamentos seriam expressos por meio de enunciados recorrentes, quais sejam: no primeiro caso, a ciência é inquestionável e infalível, a ciência é superior a outras formas de conhecimento e a ciência é associada apenas a aparelhos “tecnológicos”; no segundo caso, o cientista possui uma imagem estereotipada, o cientista é dotado de conhecimento extraordinário e o cientista é uma pessoa sem empatia ou culpa que se importa, principalmente, com a ciência; e, no terceiro caso, o empreendimento científico é movido por interesses superficiais e/ou imediatos do cientista e a ciência é desenvolvida de maneira isolada. Diante disso, tornou-se possível concluir que a série Rick e Morty, ao colocar uma pedagogia cultural em funcionamento, propaga efeitos de verdade sobre ciência por meio dos enunciados recorrentes que põe em operação. Desse modo, pode contribuir no processo de constituição da representação da ciência que os espectadores possuem. Outra conclusão a qual cheguei foi que a representação da ciência disseminada por meio de tal pedagogia não aparenta estar alinhada a aspectos da epistemologia de Paul Karl Feyerabend, o que permite supor que ela não guarda relações com a moderna filosofia da ciência. Foi possível concluir também que os enunciados recorrentes parecem pertencer a uma mesma formação discursiva, fato que possibilita cogitar que há um discurso predominante sobre ciência sendo colocado em operação por esse artefato cultural midiático.